quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Nas intempéries do cotidiano.

Numa intempérie de cotidiano viu aquela beleza infernalmente triste. Começou a piscar voluntariamente de minuto em minuto somente para umedecer os olhos porque senão os vidraria até lacrimejar. Sincronizou a respiração com o tique taque do relógio de pulso que fazia um barulho quase imperceptível, não para ele, no tique inspirava e no taque expirava.
Teve transições de pensamentos rápidas e infinitamente drásticas. Era como busca por simetria através de discordância e irregularidade.
Tinha todos os argumentos possíveis para provar e explicar o que sentia, por preguiça nunca os expunha.
Pensava nas pombas que via a sua frente, tão ousadas, não eram como antigamente. Agora não se assustam com sua presença, andam calmamente em sua direção, ao menos tentam voar.
Via o sinal indicado para o pedestre mudar rapidamente, vermelho verde vermelho vermelho verde verde, devia estar estragado. Poderia ser, também o sinal a personificação de sua alma aquele dia, hora explodia em chamas, hora era calmaria.
Um suspiro. Dois.
Em um improvável malabarismo esticou um braço indicando que o ônibus parasse e com o outro pegou o bilhete, entrou, sentou e deu uma olhada na janela embaçada, passou a mão e desembaçou-a, agora via sua imagem refletida nela... Falou baixinho: "Sou um homem bonito em dias "feios"."