segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Viver, ninguém sabe.

Quando abri a cortina, da janela pude ver um aglomerado de pessoas na avenida todas com expressões nervosas, pareciam gritar simultaneamente, sincronizadamente, certamente seria algum protesto. Logo fechei, nenhuma causa me interessava a defender e nem ouvir. Já estava escurecendo e lá fora a chuva de fim de ano caia sem parar, o filme que passava na TV ficou no mudo, o clamor da chuva era bem mais interessante de se ouvir, coloquei o disco de vinil para rodar mas também sem som, gostei de vê-lo, rodando, rodando, rodando apenas. No meio disso, me lembrei que não sabia mais qual era a frequência da minha voz, tentei, me esforcei para lembrar mas não consegui. Porém não falei.
Um cachorro começou a latir longe, incessantemente, um latir desafinado, insuportável. Olhei para o lado e vi o livro de Guimarães Rosa, o mesmo que mais cedo na página 212 me explicava que na roça tudo é canto e recanto e há sempre um cachorro latindo longe, no fundo do mundo. Mas aqui é cidade, talvez eu devesse ir para roça, talvez os cachorros de lá não são desafinados como os daqui, talvez sejam meus ouvidos.
Antes do livro, tinha ido à padaria, era bem cedo, e enquanto estava na fila me veio aquela música na cabeça; "e até quem me vê lendo o jornal, na fila do pão, sabe que eu te encontrei e ninguém dirá que é tarde demais..." Eu sorri, não sei o porquê sorri, sorri. Sim, o romantismo já havia perdido pois agora era regado só por ausência. Ta aí, sorri por ainda ser capaz de sentir romantismo, de ainda ter esperança de não ser tarde demais.
Por falar em esperança, quando cheguei no trabalho ouvia o jornalista dizer; "Dona Esperança foi a primeira confirmação de morte no incêndio no edifício no Centro, rápido, publiquem!" Dessa vez eu não sorri, eu gargalhei, cruelmente eu gargalhei. Não julguem, que eu fingirei que gargalhei por outra coisa. Mas no fundo, aquilo era uma gargalhada de puro realismo, gargalhada de uma história que tanto no literal quanto no figurado era a pura verdade.
No lanche da tarde, tive que ir ao aeroporto buscar um dos donos do jornal, meu chefe impôs essa condição. Alguns, já imagino que pensavam o quão ótimo aquilo era, no caminho podia eu elogiá-lo exacerbadamente para conseguir a coluna semanal. Para mim, era ficar sem o lanche da tarde. Enquanto esperava, via os aviões pousando que certamente pousavam homeopaticamente em lugar em lugar para a troca dos passageiros humanos, assim como acontece na vida de fato, de quando em quando troco de passageiros humanos na minha excursão.
O disco ainda está rodando, a chuva ainda clamando, as imagens da TV ainda dançando sem som. Resolvi ligar pra mamãe, chamou três vezes, ela sempre me atende na primeira chamada mas dessa vez é porque provavelmente eu não respeitei o seu horário e ela já devia estar dormindo mas mamãe é mamãe e prontamente disse o
_"oi"
mais carinhoso do mundo.
_eu não sei viver.
_ninguém sabe filha.
Aquilo me bastou, mamãe sempre foi muito sábia. Agora vou dormir, quem sabe amanhã, semana que vem ou ano que vem eu aprendo a viver.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Locação anterior.

Imaginava como seria os donos da locação anterior daquele livro, o cheiro forte de nicotina dava náuseas, tinha também as manchas de doces entre as páginas que deixava agonia no ar e páginas dobradas.
Todos falam. Os objetos escapam das mãos e correm para longe, umas três vezes. Os olhos movimentam-se desesperadamente, não estacionam na órbita.
Aparentes tranquilos, tinham braços cruzados, olhos fechados. Calma não, profunda falta de fé.
Pontualidade. Pontualidade para o café das sete, o almoço do meio dia, o lanche das quinze, o jantar das dezenove e a morte aos setenta.
Escutam confissões para abafar as próprias, os que confessam é por falta de segredos.
Escutam a música e logo em seguida apresentam gestos ao ar, os dedos desenham incompreensíveis contornos, enquanto a boca se cala ou só dubla o que o outro quer dizer.
Não podem perder o desfile, aonde a modelo desfila seus fracassos.
Caridade, esse é o tempo. Bastou brindarem com os copos de plástico a pobreza e depois reciclá-los. E sorrir, só os caridosos, os que recebem não devem pois estragaria a fotografia do calendário com os dentes amarelados de miséria.
O livro, comprou. Não arriscaria alguém pensar tanto a seu respeito.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O pulso ainda pulsa.

Tirei a roupa com dificuldade, olhei meu corpo que em breve começaria a se decompor, o olhei com carinho, o olhei com saudade.
Caminhei no parque pela manhã, enfim usando protetor solar e um lindo chapéu. Depois voltei para casa, tomei meu banho, alimentei-me de forma saudável.
Joguei xadrez sozinha, ganhei a partida.
Li, assisti filmes, ouvi músicas em busca de sofrimento, em busca especificamente de sentir mas qualquer história imbecil ou qualquer melodia não são mais capazes disso, eu precisaria do pessimismo do dia a dia ou de uma desgraça concreta.
Isto estava perdendo, alguns diziam que estava era ganhando com isso. Não, não.
A noite daquele interminável dia havia chegado, aqueles incontáveis relógios apontavam isso. Tinha muitos só para obter uma sensação; de muitos trabalhando mais rápido seria a conclusão do trabalho.
Presenteada eu fui.
Meus olhos negros fixaram-se dento da órbita, meu coração enxovalhado gritava, minha caixa torácica comprimia-se, eu suspirava profundamente.
Abracei o que estava perdendo, abracei trêmula, cravei minhas unhas agora frágeis no dorso do que perdia... As unhas quebraram mas do dorso que cravavam não saiu uma só gota de sangue.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Nas intempéries do cotidiano.

Numa intempérie de cotidiano viu aquela beleza infernalmente triste. Começou a piscar voluntariamente de minuto em minuto somente para umedecer os olhos porque senão os vidraria até lacrimejar. Sincronizou a respiração com o tique taque do relógio de pulso que fazia um barulho quase imperceptível, não para ele, no tique inspirava e no taque expirava.
Teve transições de pensamentos rápidas e infinitamente drásticas. Era como busca por simetria através de discordância e irregularidade.
Tinha todos os argumentos possíveis para provar e explicar o que sentia, por preguiça nunca os expunha.
Pensava nas pombas que via a sua frente, tão ousadas, não eram como antigamente. Agora não se assustam com sua presença, andam calmamente em sua direção, ao menos tentam voar.
Via o sinal indicado para o pedestre mudar rapidamente, vermelho verde vermelho vermelho verde verde, devia estar estragado. Poderia ser, também o sinal a personificação de sua alma aquele dia, hora explodia em chamas, hora era calmaria.
Um suspiro. Dois.
Em um improvável malabarismo esticou um braço indicando que o ônibus parasse e com o outro pegou o bilhete, entrou, sentou e deu uma olhada na janela embaçada, passou a mão e desembaçou-a, agora via sua imagem refletida nela... Falou baixinho: "Sou um homem bonito em dias "feios"."

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Angústias agostianas.

Sem entender e muito menos ter uma pausa para compreender tenho sensação que antecede e prenuncia o que já está pronto para acontecer. Não seria propriamente ansiedade...
O desejo de ter logo o que vem depois da prenuncia toma-se proporções quase religiosas, o meu constante pensar estabelecido existe como uma das formas mais incontestadas de fé.
E penso, penso quase desejando... Depois esqueço, esqueço quase que intencionalmente como se entendesse que para ter, esquecer é condição.
O intervalo entre a sensação e o esquecimento dela ou mesmo a duração de todos eles é para mim como passar por trechos esmaecidos, desconexos... exercícios poéticos, no máximo.
E exercitar-se poeticamente além de ser quase uma pretensão é desgastante, é dolorido.
É angustiante, mais ainda se for agosto.
Existe dois extremos, quando na sensação é taquicardia, quando no esquecimento bradicardia.
Como se eu já estivesse pronta para viver e nunca viver, nunca chegar no ápice da vida, como idealizar sem nenhum ideal, como sorrir seco sem nenhuma saliva. Como se eu vivesse num eterno agosto.

terça-feira, 19 de julho de 2011

(des)pertencer.

Entre tantos não éramos comum mas tinha o entretanto e não era um entretanto qualquer.
Nos encontrávamos todos os dias naquela estação, sempre pensei que fosse algo casual mas os crédulos diziam que era o destino e os agnósticos afirmavam que éramos pontuais.
Nunca falávamos mas dentro daquele quase silêncio existia uma algazarra interna e, brincávamos um com o outro, uma brincadeira insinuada. E assim era o nosso encontro mais exato, um encontro insinuado.
Mal sabia que nossas intenções eram as mesmas mas para fins diferentes.
Certa vez ele leu um trecho da sua escritora preferida que dizia: "Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça." E então começou a entender sua dúvida existencial e quis pertencer a alguma coisa mas pertencer só a algo não bastava, tinha que pertencer a alguém. Não podia ter nascido de graça.
Diferente de mim, que procurava o oposto...
Certa vez eu li um trecho do meu escritor preferido que dizia: "Desguia, entra noutra, arruma um namorado novo, gatinho sem problemas, que dê cama & carinho. E simples e gostoso. Por que não?" E então eu teria que me pertencer novamente para despertencer.
Ainda penso em quem estava certo, os crédulos ou os agnósticos.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Fato cotidiano. 2

Vivia exilada dentro da própria vida, quanto mais se dissolvia no tempo ou vulgarmente envelhecia menos sabia, menos se conhecia. Chegou ao extremo de desejar que alguém fosse ela para descobrir o que fazer, porque já não tinha mais ideias.
Pouco falava mas muito pensava, punha-se em silêncio e assim escutava o silêncio alheio falar, falavam e falavam.
Desfilou vários romances efêmeros durante a vida.
Dinheiro não lhe faltava, realizações sim.
Sempre que se via sozinha pensava no quanto era fracassada em tudo, queria pelo menos então morrer por algo nobre.
Tinha um filho.
_ Bem senhor, sinto muito. Sua mãe estava em seu carro esperando o sinal abrir e veio um marginal e tentou-lhe roubar o relógio, ela achou que daria para escapar furando o sinal, achou que daria tempo... mas não deu.
_ Oh Deus! Esse relógio era presente meu e ela dizia que guardaria pra sempre.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Fato cotidiano.

Irritava uns, comovia outros mas sempre na sua linha de dignidade do silêncio. Fingia usar a metáfora da estátua de praça, não se comove, não se mexe, mesmo que venham pombos e defequem em cima mantém-se imóvel, indiferente.
Apesar de tão jovem no corpo sentia como se tivesse vivido milênios, era muito velho nos acidentes do coração. Mas ninguém sabia, era um fugitivo da fuga, fingido.
Entrou naquela sala, estava gélida devido ao ar condicionado, e ele extremamente nervoso... Sua visão, seu olfato e audição estavam em seus estados mais exaltados e mesmo assim fingia distração.
Angustiado, pensava naquele momento que sua mãe tinha razão, ele precisava de ajuda.
A moça perguntou:
_ No que posso ajudar senhor ?
Então falou por minutos e minutos, sem interrupções, depois respirou fundo e quase engasgou-se. Esvaziou-se.
_ Prontinho senhor, pode entrar e repetir tudo isso para sua terapeuta.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Piloto automático.

Ora, todos são estúpidos demais pra perceber que eu nem estou mais ali, que minha cabeça está viajando, dando milhões de voltas enquanto ao meu redor gastam saliva e mais saliva contando suas lorotas. Cruzo as pernas, bocejo, estalo os dedos mas nada adianta, continuam falando. Então ligo o piloto automático, é até bom, sabe sorrir, sentir prazer e achar que realmente é feliz. E eu fico só como uma mera observadora de mim mesma. Tenho repulsa de ouvir os mesmos discursos e quando tento novos, fazem como eu, acionam o piloto automático, ninguém ouve.
Entrei em deflação emocional aos 16, desde então faço drama mexicano num romance tipicamente inglês ou ao contrário.
Tento novas filosofias de vida toda semana.
As vezes minto, sempre omito. As únicas vezes que usei a verdade e escancarei minha alma, ela foi esmagada logo em seguida. Caio tinha razão ao dizer: "nunca, jamais diga o que sente. Por mais que doa, por mais que te faça feliz. Quando sentir algo muito forte, peça um drink." Coitado do meu fígado.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Não solta da minha mão.

Entrei ali com medo do que iria encontrar, o medo aumentou quando encontrei.
Só olhava aquela situação, apenas olhava. Não tinha força nenhuma pra tomar alguma atitude, não tinha ânimo algum para ser sua fortaleza, normalmente você era a minha e eu dizia isso pra todo mundo, dizia como você era animada, estressada, engraçada, dramática. Nunca a vi assim e nunca a imaginei assim.
Você que nunca me via chorar, me viu. Você que nunca me via implorar, me viu. Você que nunca me via desesperada, me viu.
Sempre desejei morrer primeiro que você.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Epitáfio.

E por algum motivo do além, deixamos de sobreviver juntos, desistimos juntos, partimos juntos... E na homenagem do enterro, assim nos definiram:
_ Tiveram conversas que foram dignas de enciclopédia, já outras nem de livrinhos de piada.
Não, não eram amigos, não eram namorados e muito menos tinham laços sanguíneos.
Acho que eram como conhecidos que tentam buscar no outro um ponto em comum. Um ponto sobretudo bom, porque ruim não precisava, enxergava-se, era obvio. Um revolucionário sempre reconhece o outro, não que esse fosse um ponto ruim, mas de fato era ruim para a sua(s) sobrevivência.
Brincavam que o sentido da vida deles era figurado, talvez realmente fosse.
Como eram apaixonados, não um pelo outro, e por isso sofreram. Coitadinhos!
Viviam num eterno looping.
Só encontravam a calma na agitação, e só encontravam agitação na calma.
Reclamavam por sempre sonhar outra realidade, enquanto viviam e viam a ficção de sempre.
Não eram confusos, eram profanos medrosos.
Seus segredos? Nunca descobriremos.

Amém.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Das cartas.

Sei que você odeia abrir emails, então tive que tirar o dinheiro do meu vinho para te mandar escritos por correio. Mas tudo bem, tenho mesmo que parar de beber. Aqui é sempre muito frio, o vinho ajuda... ta, eu tenho mesmo que parar de beber.
Você nem perguntou, mas me deu uma vontade de te contar como anda minha vida.
Sabe, acabou minha sede de buscar compreensão alheia, se busco é sem entusiasmo algum.
E fico assim, meio monossilábica, meio descontente, meio frustrada, meio pessimista, meio metade. Estou meia. Mas afirmo por aí que não sou assim, somente estou assim.
Ando numa vida sedentária, alimentação errada, sinto em exagero, adquiro excesso de desilusão, leio demais e menos do que deveria, vejo documentários malucos, fico confusa, ouço blues e me deprimo, ouço rock e me revolto, quase enlouqueço, vez em quando tenho pseudo alegria. Chamo tudo isso de clássico suicídio em câmera lenta.
Estou sempre com expressão de inexpressão. Há boatos que seja botox, são só boatos, sem muito dinheiro para fazer, sabe como são as coisas.
Assim, tão de repente, abro mão de tudo. Como você fez, como eu fiz e faço.
Convivo e me divirto com plurais solitários, me encaixo bem entre eles.
Deu saudade suas. É eu preciso mesmo parar de beber.
Não precisa tirar teu dinheiro dos drinks para responder-me, não quero ler-te. Só mandei algo porque... bem, porque... Eu preciso mesmo parar de beber.
Mas penso que a vida é dura, mas não dura tanto.
Ah, tchau.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Agatha salvou minha vida.

Tinha uma mania de ver o ensaio do balé... via de longe, só por trechos da imensa janela aberta, sentada naquele banquinho de praça muito frequentada por artistas, não que eu fosse uma, mas gostava de ficar, estar ali. Nunca tive coragem de entrar naquele prédio, mas sentia simpatia por todos que entravam.
Naquele dia foi diferente, entrei. Fiquei num canto qualquer, e vi que o semblante dos alunos não eram dos melhores, pensei : " não escolhi um bom dia ".
Observei aquilo por um tempo. A aula tinha chegado ao fim.
O suicídio é algo condenável não quem o pratica, até semana que vem queridos. Dizia a professora de natureza gótica com os olhos marejados. Uma súbita curiosidade me invadiu, o que acontecera ?
Todos foram e eu fiquei ali, olhando aqueles espelhos ao meu redor, me olhei de cima em baixo, não pronunciava palavra alguma e fiquei assim por muito tempo, até pensar alto, e muito alto por sinal, sem perceber aqueles pensamentos ecoaram pela minha boca : Quero algo que vai além de respirar...
De repente a tal professora de natureza gótica entra e me surpreende no meio do meu pensamento agora exposto e disse: "Agatha também queria algo que fosse além de respirar, mas não suportou a espera." Então entendi o que acontecera.
Estática, foi como fiquei. Lembro-me exatamente quem era Agatha, era minha preferida, era a que eu mais gostava de ver, e a única que eu sabia o nome... preferia não saber.
Agatha havia salvado minha vida algumas vezes.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Quero.

Nunca estive tão triste, mas também nunca tive tanta vontade de viver, uma vontade tão grande que me faz fechar os olhos, respirar fundo e pensar: quero correr o mundo a fora, quero estudar, quero ficar na preguiça, quero ser sozinha, quero ser rodeada de pessoas, quero amar mas só por um tempo, quero ser amada, não quero amar mas só por um tempo, quero arriscar a vida, quero viver caseiramente sem nenhum risco, quero viver modernamente na extrema rotina, quero ficar triste, quero ficar alegre, quero filhos, não quero filhos, quero me casar, não quero me casar, quero morar com meus pais, quero morar sozinha, quero morar com o namorado, quero morar com os amigos, quero viajar, quero ficar em casa no feriado, quero ir pra fora do país, quero ficar no país, quero ir no show da minha banda preferida, quero ir no show de algum estilo musical que eu não goste, quero aprender novas línguas, quero cortar o cabelo, quero deixar o cabelo crescer, quero pular de bungee jumping, quero andar a cavalo, quero acordar cedo, quero dormir tarde, quero ir ao cinema, quero ir ao teatro, quero me empanturrar de comida, quero pagar mico, quero ser rica, quero ter dificuldade pra pagar as contas, quero ter animais, não quero ter animais, quero obter sucesso, quero ser anônima, quero casa, quero apartamento. Meu Deus, eu quero viver!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

L'amour, hum hum, pas pour moi ♫

Fechei meus olhos e fiquei torcendo que quando abrisse novamente o tempo tivesse voltado ou passado mais rápido, mas ambos não aconteceram. Tinha tempo que eu não tinha mais tempo, mas o que não me faltava era tempo.
Aquele sorriso me fazia uma falta enorme, sentia falta de como era meu tom quando estava sintonizado com ela. Mas a sintonia já estava pra lá de (des)sintonizada. Destruí uma das poucas coisas de bonito que eu tinha, sempre desempenhei muito bem essa função de destruir, principalmente me autodestruir.
Agora me vejo aqui, jogado nesse apartamento, fumando até os cigarros que não dou conta, cigarros esses que ela tanto odiava.
Nunca mais tive sonhos doces, e se os tenho não me lembro depois.
Queria que ela me desculpasse, perdoasse... Porque qualquer hora dessas eu estou desaparecendo.

sábado, 9 de abril de 2011

Acho que falo de mim.

Pensa que realmente viver próximo a ela é um sacrifício terrível. Sempre está insatisfeita. É insatisfação consigo mesma, insatisfação com o próximo, insatisfação com essa liberdade limitada. É crônica essa insatisfação. Fora esse seu drama que é passível de novela mexicana, mas sua atuação é em segredos.
Uma indecisa, isso que é. Fica sempre naquela de roleta russa; pode ser que sim, pode ser que não. Sabe o que deseja, mas cogita usar a renúncia para eles e usa. Depois vem a corrosão da renúncia cometida, do erro cometido. Falta sutileza, o resto sobra. Vive no equilíbrio bambo, o que não combina nada com a libriana que é.


Filósofos de rua a perseguem, falam de hipocrisia, de ignorância, de música, de amor e como falam de amor, quando começam a resenhá-lo chega a acreditar que ama. Desiste. Desiste. Desiste. Sempre essa sucessão de desistências. Mas resta um pouquinho de fé nesses seus desesperos. Dizem que desesperar-se rende. Ela vive rendendo.

domingo, 3 de abril de 2011

O dia em que morremos.

Naquele dia, o que mais queria era chorar as derrotas solitariamente no meu quarto. Mas saí com uma sonhadora triste que tinha problemas com o peso. Fomos a uma festa. No caminho, assim respectivamente, sonhávamos, reclamávamos e entristecíamos. Quando chegamos ao ponto de encontro dos convidados, veio o anfitrião nos receber, era alto, o cabelo black power não lembrava sequer um pouco um hippie sujo. Parecia míope. Ouvíamos música boa, pessimistas assim como nós mas paradoxalmente sonhadoras assim como nós. Lembro que choveu bastante, o que valorizou o cenário obscuro. Odiávamos efusividade, porém ficamos os três, o anfitrião, a sonhadora triste e eu, compartilhando afeto talvez, compartilhando buscas. Pessoas próximas a nós morriam de overdose, algumas morriam por conflitos, morremos pela falta. A falta que tanto buscávamos preencher mas não encontramos. Morremos em um dia bonito.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Tramas mirabolantes.

Uma multidão habitava nela. Desesperador era quando todos começavam a falar e exercer influência ao mesmo tempo.
Pensou e tentou matar um pouco dessa multidão mas foi percebendo que eles eram imortais, eram imortais pelo menos enquanto ela estivesse viva.
Estava confusa, e a única coisa que diziam era: "Querida, implacavelmente, é a vida." Mas não queria que a sua fosse implacavelmente assim, tinha muita pressa, de tudo. Porém achava que vivia em retrocessos. E o ar de temor, vinha assim, do nada, fazendo-a valer todas as suas células de autocontrole, e repetia: autocontrole! autocontrole! Como se adiantasse.
Tinha tantos desejos ocultos por trás de comportamentos aparentemente nobres. Um pouco de realidade, um pouco de ficção. Só não sabia onde um começava e outro terminava.
Sempre gostou muito dos paradoxos, até viver um ou vários.
Odiava ninguém conseguir decifrá-la, tempos depois conseguiram e ela odiou também. Porque a vida dela era assim, entrelinhas, achava muito belo o não explícito. E alguém chegar e descobrir todos os enigmas das suas entrelinhas era devastador demais. Ainda mais que ela não conseguiu fazer o mesmo. Pois o ser, era mais enigmático que ela.
Resolveu partir...
Deixou apenas um pequeno bilhete para o ser enigmático.
Que assim dizia:
(...) ensaiar aproximações novas. Desvincular. Principalmente de você.
Desatenciosamente, eu.
E realmente partiu...
Tempos depois e tudo, mas também nada, mudou.
Pensa sempre em voltar.

terça-feira, 15 de março de 2011

Inquietude

Faço por fazer, sou somente por ser, quando quero exatamente ao contrário.
Tem uma inquietação interna gigante que me cutuca quase diariamente, dizendo: esse não é seu lugar, isso não é você. Mas somente isso, não responde onde é o lugar, ou o que sou.
Quero ter mais possibilidades... em determinado momento elas vem, tenho tanta opção para escolher que acabo optando por esperar, procrastino tanto na escolha que fico sem nenhuma. E volta ao desejo inicial ou digo que estou naquela coisa de "deixar rolar".
E as decepções se acumulam. Me sinto como um soldado abatido em combate.
Tento e acabo quebrando a cara, digo que isso nunca mais vai acontecer novamente e acaba acontecendo, digo que nunca mais vou fazer novamente e acabo fazendo. Talvez seja como o escritor disse, você não cai no mesmo poço duas vezes mas três.
Fico na pseudo serenidade, pelo menos pareço menos desesperada, mas na verdade estou enlouquecendo de tanto desespero. Porque a gente acha que ainda tem um vidão pela frente, mas não tem.
Dia desses, disse que realmente a esperança é a última que morre. Prova disso sou eu, mesmo não querendo, ela se renova involuntariamente. Quando a esperança chega a morrer, creio que morremos também. Acho que isso explica a sensação de morte, preciso de esperança e muita esperança.
Onde fica a saída de emergência, por favor ?

terça-feira, 1 de março de 2011

E virou utopia.

Foi tornando-se enjoativa, repetitiva. Praticou tudo aquilo que sempre condenara.
Achava um tanto piegas quando ouvia falar de paixão, amor... Como alguém pode ficar com o corpo tremulo ou com as mãos geladas só por outro alguém? Isso não existe, é ilusão.
Sentiu seu corpo ficar tremulo, suas mãos geladas, tentou se convencer que foi apenas eletricidade estática muito forte. Ou alguma reação química de seu corpo.
Suas crises existenciais começaram a ficar sentimentais demais, procurou então, fazer o que a mediocridade, a massa faz... isolar pensamentos, não pensar. E fez uso de mais uma coisa que sempre condenara: o álcool e as ervas alucinógenas. Resolveu o "problema" até então, não pensou. Mas no dia seguinte, descobriu que não pensou mas fez. Agora o que era segredo, meio mundo sabia.
Então voltou a sentir o ódio pela massa, bem mais argumentado agora.
Entrou no clã dos que preferem a semiótica do desencontro, achando que a fantasia do amor é bem melhor que sua realidade. Não iria admitir que era platônico.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

É algo.

É algo que não se descreve, não se expressa, não se pensa a respeito, somente se sente. É comparado à aqueles momentos em que sua mente "viaja" e seus olhos ficam vidrados, fixados em alguma coisa ou ponto específico, a diferença é que nessa viagem que sua mente faz, você não sente dor, pelo contrário traz até uma certa tranquilidade, calma.
Já esse algo que não se descreve, dói, e cria-se então aquela sensação de nó na garganta, você engole e segura pra não demonstrar porque esse algo também não se expressa.
Esse algo que não se descreve não se pode pensar a respeito, não se pode porque se você pensar dói mais.
E os cercos vão se fechando... Você deixa de descrever porque dói, você deixa de expressar porque você é "forte", você não pensa porque machuca o ato de pensar nesse algo. E só resta sentir, não que não doa também, mas é que não se pode evitar como os outros em questão. E de todas as etapas desse algo que não se descreve, a parte de sentir é a pior. Porque além da sensação de nó, vem aquele aperto no seu órgão vital, que bate sem parar e o que você mais deseja é que ele não bata, porque dói, dói e dói. Dói comparado as batidas, cada batida maior a dor... É como se ao invés do "tu, tu, tu", fosse "dor, dor, dor".
E assim vai...
E o tempo todo você descreve esse algo que não se descreve. Ele tem descrições demais. Ele dói demais... Mas o que dói ?
Na verdade nunca descobri o que dói ou que faz doer. So sei que é algo que não dá pra descrever por mais que você descreva. Só sente.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ando perdendo...

E ando perdendo a paciência, a noção, o senso, a coragem, o ânimo, o sono.
Ando perdendo a culpa de estar perdendo e tentando achar culpados. Forjo culpados... e os perco logo após impor a culpa a eles. Então assim, perco a companhia.
Me torno indiferente, mas eu me importo, até demais.
Alguns dizem que me compreendem... não, vocês não me compreendem, para que isso aconteça, teriam que ser eu.
Consigo alívios momentâneos, mas como disse, são momentâneos.
Meus neurônios estão trabalhando muito ultimamente. Meu Deus, como tenho pensado. As vezes me dá medo deles entrarem em curto circuito e os danos serem irreversíveis, tenho muito medo que isso aconteça.
Uma vez, disse que ninguém quebraria meu coração... Me descuidei, e , quebraram, massacraram. Quebram, massacram.
Quantas vezes jurei que pararia por aqui e continuei, continuei. Mas tudo cansa. E uma hora ou outra, eu vou ter que me cansar.