Imaginava como seria os donos da locação anterior daquele livro, o cheiro forte de nicotina dava náuseas, tinha também as manchas de doces entre as páginas que deixava agonia no ar e páginas dobradas.
Todos falam. Os objetos escapam das mãos e correm para longe, umas três vezes. Os olhos movimentam-se desesperadamente, não estacionam na órbita.
Aparentes tranquilos, tinham braços cruzados, olhos fechados. Calma não, profunda falta de fé.
Pontualidade. Pontualidade para o café das sete, o almoço do meio dia, o lanche das quinze, o jantar das dezenove e a morte aos setenta.
Escutam confissões para abafar as próprias, os que confessam é por falta de segredos.
Escutam a música e logo em seguida apresentam gestos ao ar, os dedos desenham incompreensíveis contornos, enquanto a boca se cala ou só dubla o que o outro quer dizer.
Não podem perder o desfile, aonde a modelo desfila seus fracassos.
Caridade, esse é o tempo. Bastou brindarem com os copos de plástico a pobreza e depois reciclá-los. E sorrir, só os caridosos, os que recebem não devem pois estragaria a fotografia do calendário com os dentes amarelados de miséria.
O livro, comprou. Não arriscaria alguém pensar tanto a seu respeito.