O meu clímax rotineiro é a luz saltando na frente dos meus olhos, me dizendo bom dia sadicamente.
As pessoas vão e vem, imagino o que elas pensam, respiro fundo, minha cabeça dói, eu ando, meu sapato machuca meus pés, eu ouço, eu falo, eu não lembro o que falei.
Espasmos de presente.
Ainda não, mas falta pouco.
Não, você não sabe, ninguém pode saber. Sei saber o que não se sabe.
A lucidez eu não sei onde está, foi internada no hospício, não sei qual.
Do último andar tenho náuseas, medo, de pressa desço no andar errado, mais tempo de tortura, por minha culpa.
Me arrependo, o tempo não tem fim, o tempo é o fim, me arrependo.
As gotas caem do céu, todos correm, parece ácida, ninguém quer senti-la, eu não quero molhar.
A velha atravessa a rua, indefesa, um dia não foi, frágil, um dia não foi, sinto dó, um dia não senti.
Peço pra entrar em casa, não tenho a chave, a casa é minha, não só minha, entro.
Lembro do seu sorriso, ligeiramente torto, que significa arte contemporânea, e sorrio, torto, que significa arte abstrata.
Durmo.