Entre tantos não éramos comum mas tinha o entretanto e não era um entretanto qualquer.
Nos encontrávamos todos os dias naquela estação, sempre pensei que fosse algo casual mas os crédulos diziam que era o destino e os agnósticos afirmavam que éramos pontuais.Nunca falávamos mas dentro daquele quase silêncio existia uma algazarra interna e, brincávamos um com o outro, uma brincadeira insinuada. E assim era o nosso encontro mais exato, um encontro insinuado.
Mal sabia que nossas intenções eram as mesmas mas para fins diferentes.
Certa vez ele leu um trecho da sua escritora preferida que dizia: "Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça." E então começou a entender sua dúvida existencial e quis pertencer a alguma coisa mas pertencer só a algo não bastava, tinha que pertencer a alguém. Não podia ter nascido de graça.
Diferente de mim, que procurava o oposto...
Certa vez eu li um trecho do meu escritor preferido que dizia: "Desguia, entra noutra, arruma um namorado novo, gatinho sem problemas, que dê cama & carinho. E simples e gostoso. Por que não?" E então eu teria que me pertencer novamente para despertencer.
Ainda penso em quem estava certo, os crédulos ou os agnósticos.