terça-feira, 17 de maio de 2011

Epitáfio.

E por algum motivo do além, deixamos de sobreviver juntos, desistimos juntos, partimos juntos... E na homenagem do enterro, assim nos definiram:
_ Tiveram conversas que foram dignas de enciclopédia, já outras nem de livrinhos de piada.
Não, não eram amigos, não eram namorados e muito menos tinham laços sanguíneos.
Acho que eram como conhecidos que tentam buscar no outro um ponto em comum. Um ponto sobretudo bom, porque ruim não precisava, enxergava-se, era obvio. Um revolucionário sempre reconhece o outro, não que esse fosse um ponto ruim, mas de fato era ruim para a sua(s) sobrevivência.
Brincavam que o sentido da vida deles era figurado, talvez realmente fosse.
Como eram apaixonados, não um pelo outro, e por isso sofreram. Coitadinhos!
Viviam num eterno looping.
Só encontravam a calma na agitação, e só encontravam agitação na calma.
Reclamavam por sempre sonhar outra realidade, enquanto viviam e viam a ficção de sempre.
Não eram confusos, eram profanos medrosos.
Seus segredos? Nunca descobriremos.

Amém.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Das cartas.

Sei que você odeia abrir emails, então tive que tirar o dinheiro do meu vinho para te mandar escritos por correio. Mas tudo bem, tenho mesmo que parar de beber. Aqui é sempre muito frio, o vinho ajuda... ta, eu tenho mesmo que parar de beber.
Você nem perguntou, mas me deu uma vontade de te contar como anda minha vida.
Sabe, acabou minha sede de buscar compreensão alheia, se busco é sem entusiasmo algum.
E fico assim, meio monossilábica, meio descontente, meio frustrada, meio pessimista, meio metade. Estou meia. Mas afirmo por aí que não sou assim, somente estou assim.
Ando numa vida sedentária, alimentação errada, sinto em exagero, adquiro excesso de desilusão, leio demais e menos do que deveria, vejo documentários malucos, fico confusa, ouço blues e me deprimo, ouço rock e me revolto, quase enlouqueço, vez em quando tenho pseudo alegria. Chamo tudo isso de clássico suicídio em câmera lenta.
Estou sempre com expressão de inexpressão. Há boatos que seja botox, são só boatos, sem muito dinheiro para fazer, sabe como são as coisas.
Assim, tão de repente, abro mão de tudo. Como você fez, como eu fiz e faço.
Convivo e me divirto com plurais solitários, me encaixo bem entre eles.
Deu saudade suas. É eu preciso mesmo parar de beber.
Não precisa tirar teu dinheiro dos drinks para responder-me, não quero ler-te. Só mandei algo porque... bem, porque... Eu preciso mesmo parar de beber.
Mas penso que a vida é dura, mas não dura tanto.
Ah, tchau.