Ilusoriamente acompanhada, todo aquele ácido aprisionado no
estômago, borbulhando. As contrações cardíacas se alternavam entre rápidas e
lentas e meu corpo inteiro acompanhava o ritmo. Lento. Rápido. Lento. Rápido.
Consegui ouvir o monólogo dentro da minha cabeça e ao mesmo
tempo via todas aquelas bocas gesticulando-se em câmera lenta ao meu redor,
muitas vezes gesticulavam para mim. Eu queria dizer alguma coisa, mas eu era afônica
naquele momento.
Um cavalheiro cheio de gentilezas, uma moça cheia de
delicadezas, abraços e sorrisos, o cheiro era bom que chegava asfixiar, a
música era a mesma há algumas horas, socava meus tímpanos brutalmente. Eu
levantava os braços e oferecia um brinde de agradecimento a algo que nem eu
mesma sabia o que era, sujava-me toda, não tinha destreza para manter o
equilíbrio.
Sentei-me exausta e disse a um desconhecido aleatório que
havia uma eternidade que eu sobrevivia e hoje eu a comemorava. Fechei os olhos.
Quando abri, estava sobrevivendo a outra eternidade, restava-me
agora uma família que reclamava da sede de chuva depois de uma longa estação de
sol.
Num impulso literário, eu comecei a escrever, meus dedos
caminhavam sozinhos e achei que nunca iria parar mas não tinha importância, eu
tinha uma eternidade ainda.
Enquanto meus dedos caminhavam ilustrando o papel, a canção
dizia: Kiss me hard before you go... Não fui beijada, mas eu tenho
uma eternidade ainda.
Eternidade que diminui para anos, meses,
semanas, dias, a cada vez que comemoro.
Eu tenho uma eternidade ainda...
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