quinta-feira, 21 de abril de 2011

Agatha salvou minha vida.

Tinha uma mania de ver o ensaio do balé... via de longe, só por trechos da imensa janela aberta, sentada naquele banquinho de praça muito frequentada por artistas, não que eu fosse uma, mas gostava de ficar, estar ali. Nunca tive coragem de entrar naquele prédio, mas sentia simpatia por todos que entravam.
Naquele dia foi diferente, entrei. Fiquei num canto qualquer, e vi que o semblante dos alunos não eram dos melhores, pensei : " não escolhi um bom dia ".
Observei aquilo por um tempo. A aula tinha chegado ao fim.
O suicídio é algo condenável não quem o pratica, até semana que vem queridos. Dizia a professora de natureza gótica com os olhos marejados. Uma súbita curiosidade me invadiu, o que acontecera ?
Todos foram e eu fiquei ali, olhando aqueles espelhos ao meu redor, me olhei de cima em baixo, não pronunciava palavra alguma e fiquei assim por muito tempo, até pensar alto, e muito alto por sinal, sem perceber aqueles pensamentos ecoaram pela minha boca : Quero algo que vai além de respirar...
De repente a tal professora de natureza gótica entra e me surpreende no meio do meu pensamento agora exposto e disse: "Agatha também queria algo que fosse além de respirar, mas não suportou a espera." Então entendi o que acontecera.
Estática, foi como fiquei. Lembro-me exatamente quem era Agatha, era minha preferida, era a que eu mais gostava de ver, e a única que eu sabia o nome... preferia não saber.
Agatha havia salvado minha vida algumas vezes.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Quero.

Nunca estive tão triste, mas também nunca tive tanta vontade de viver, uma vontade tão grande que me faz fechar os olhos, respirar fundo e pensar: quero correr o mundo a fora, quero estudar, quero ficar na preguiça, quero ser sozinha, quero ser rodeada de pessoas, quero amar mas só por um tempo, quero ser amada, não quero amar mas só por um tempo, quero arriscar a vida, quero viver caseiramente sem nenhum risco, quero viver modernamente na extrema rotina, quero ficar triste, quero ficar alegre, quero filhos, não quero filhos, quero me casar, não quero me casar, quero morar com meus pais, quero morar sozinha, quero morar com o namorado, quero morar com os amigos, quero viajar, quero ficar em casa no feriado, quero ir pra fora do país, quero ficar no país, quero ir no show da minha banda preferida, quero ir no show de algum estilo musical que eu não goste, quero aprender novas línguas, quero cortar o cabelo, quero deixar o cabelo crescer, quero pular de bungee jumping, quero andar a cavalo, quero acordar cedo, quero dormir tarde, quero ir ao cinema, quero ir ao teatro, quero me empanturrar de comida, quero pagar mico, quero ser rica, quero ter dificuldade pra pagar as contas, quero ter animais, não quero ter animais, quero obter sucesso, quero ser anônima, quero casa, quero apartamento. Meu Deus, eu quero viver!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

L'amour, hum hum, pas pour moi ♫

Fechei meus olhos e fiquei torcendo que quando abrisse novamente o tempo tivesse voltado ou passado mais rápido, mas ambos não aconteceram. Tinha tempo que eu não tinha mais tempo, mas o que não me faltava era tempo.
Aquele sorriso me fazia uma falta enorme, sentia falta de como era meu tom quando estava sintonizado com ela. Mas a sintonia já estava pra lá de (des)sintonizada. Destruí uma das poucas coisas de bonito que eu tinha, sempre desempenhei muito bem essa função de destruir, principalmente me autodestruir.
Agora me vejo aqui, jogado nesse apartamento, fumando até os cigarros que não dou conta, cigarros esses que ela tanto odiava.
Nunca mais tive sonhos doces, e se os tenho não me lembro depois.
Queria que ela me desculpasse, perdoasse... Porque qualquer hora dessas eu estou desaparecendo.

sábado, 9 de abril de 2011

Acho que falo de mim.

Pensa que realmente viver próximo a ela é um sacrifício terrível. Sempre está insatisfeita. É insatisfação consigo mesma, insatisfação com o próximo, insatisfação com essa liberdade limitada. É crônica essa insatisfação. Fora esse seu drama que é passível de novela mexicana, mas sua atuação é em segredos.
Uma indecisa, isso que é. Fica sempre naquela de roleta russa; pode ser que sim, pode ser que não. Sabe o que deseja, mas cogita usar a renúncia para eles e usa. Depois vem a corrosão da renúncia cometida, do erro cometido. Falta sutileza, o resto sobra. Vive no equilíbrio bambo, o que não combina nada com a libriana que é.


Filósofos de rua a perseguem, falam de hipocrisia, de ignorância, de música, de amor e como falam de amor, quando começam a resenhá-lo chega a acreditar que ama. Desiste. Desiste. Desiste. Sempre essa sucessão de desistências. Mas resta um pouquinho de fé nesses seus desesperos. Dizem que desesperar-se rende. Ela vive rendendo.

domingo, 3 de abril de 2011

O dia em que morremos.

Naquele dia, o que mais queria era chorar as derrotas solitariamente no meu quarto. Mas saí com uma sonhadora triste que tinha problemas com o peso. Fomos a uma festa. No caminho, assim respectivamente, sonhávamos, reclamávamos e entristecíamos. Quando chegamos ao ponto de encontro dos convidados, veio o anfitrião nos receber, era alto, o cabelo black power não lembrava sequer um pouco um hippie sujo. Parecia míope. Ouvíamos música boa, pessimistas assim como nós mas paradoxalmente sonhadoras assim como nós. Lembro que choveu bastante, o que valorizou o cenário obscuro. Odiávamos efusividade, porém ficamos os três, o anfitrião, a sonhadora triste e eu, compartilhando afeto talvez, compartilhando buscas. Pessoas próximas a nós morriam de overdose, algumas morriam por conflitos, morremos pela falta. A falta que tanto buscávamos preencher mas não encontramos. Morremos em um dia bonito.